sexta-feira, 11 de março de 2016

Je Vole

Desde que assisti “A Família Bélier”, uma comédia-dramática francesa maravilhosa, tive vontade de vir aqui falar sobre o filme. Na história, Paula é uma adolescente que enfrenta todas as questões comuns da sua idade. Porém, sua família é um pouco “diferente”: os pais e o irmão mais novo são surdos-mudos e, com isso, é Paula quem ajuda na tradução de todo o contato deles com o mundo. Um dia, ela descobre ter talento para o canto e é convidada para participar de uma audição, podendo integrar uma grande escola de canto em Paris. Mas como deixar para trás sua família?

O filme gira em torno desse dilema e é engraçado, delicado, profundo e muito emocionante.  Já assisti várias vezes e, com certeza, se tornou o meu filme favorito, barrando até – pasmem! – minha amada Amélie Poulain. É uma história que fala do amor em suas diversas formas, de descobertas, liberdade, da grandeza e complexidade das relações familiares, mas também da importância e dificuldade de se cortar o cordão umbilical.

É realmente maravilhoso, e eu me identifiquei demais com algumas questões, como, por exemplo, essa inevitável e complicada relação entre a vontade de ir e a responsabilidade de ficar.  Quem me conhece e/ou já leu um pouco do que escrevo aqui no blog, sabe que eu moro com minha avó, hoje com 88 anos. Então, a enorme vontade de sair de casa, que me acompanha há, pelo menos, uns 5 anos, sempre foi uma questão delicada. Eu sabia que, quando decidisse ir, seria difícil dar essa notícia a ela.

2015 foi um ano esquisito, acho que para quase todo mundo, mas também foi um ano de grandes mudanças para mim. E, no finalzinho de dezembro, aos 45 do segundo tempo, com 31 anos na cara, depois de muita terapia, oração e apoio, eu finalmente decidi sair de casa! Fui convidada por uma amiga (dessa e de outras vidas, certeza) para dividir um apê e, depois de vacilar um pouco, eu não pude deixar a oportunidade passar. E topei!

Dá medo? Dá. Mas o medo faz parte da vida! E vencer o medo é essencial para que a gente não deixe nossos sonhos para trás. Só eu sei o quanto e há quanto tempo eu quero ter a minha casa, o meu canto, as minhas coisas do meu jeito, a minha própria vida! As despesas vão aumentar, o trabalho idem, mas, junto com isso, vem o bônus de ser dona do meu próprio nariz! É tudo questão de priorizar, organizar e se programar. Vai rolar stress de convivência no dia-a-dia? Provavelmente. Mas acho que vai ser incrível poder dividir essa experiência com a minha melhor amiga!

E no último domingo, depois de 2 meses de muito choro, reza e desespero, eu contei para a minha avó. Incrivelmente, foi e está sendo bem mais tranqüilo do que imaginei. Dois dias depois, ela me disse que, quando eu estiver na casa nova, posso levar minha roupa de cama para lavar na casa dela, já que não terei muito espaço. Até me emprestou um sofá! Acho que é um bom sinal, haha!

Sei que, até que eu me mude (o que deve acontecer em menos de um mês) e um pouco depois também, ainda terão momentos de tensão. Ela vai ficar triste, chorar, sentir falta. Leva um tempo mesmo para processar, é difícil para mim também, acredite. Mas no fundo ela sabe, tanto quanto eu, que não vai ficar sozinha. Ela tem 2 acompanhantes, 6 filhos e 15 netos! Somos uma família enorme, unida e preocupada, e ninguém vai deixá-la se sentir abandonada. Eu também vou estar sempre por perto – estou apenas mudando de casa, não de país! E essa responsabilidade não é só minha. 

Bom, termino esse meu texto-desabafo, com o vídeo da cena final do filme, que representa perfeitamente esse meu momento. Pra quem ainda não assistiu, já aviso, é spoiler! Mas eu não poderia deixar de postar!  Dê o play, coloque na tela cheia e delicie-se com essa canção maravilhosa! :)